domingo, 23 de agosto de 2009

Dos livros (preferidos)


Arranjei o meu covil e o resultado parece ser um sucesso. Do exterior vê-se somente um enorme buraco, mas na realidade este não conduz a parte alguma, bastam alguns passos para se ir de encontro a um sólido bloco de pedra. Não quero vangloriar-me de ter elaborado cientemente este estratagema, é simplesmente o vestígio de uma das minhas numerosas tentativas de construção fracassadas, mas, para concluir, pareceu-me vantajoso não tapar este buraco. É certo que há artimanhas tão subtis que se viram contra si mesmas, sei-o melhor do que ninguém, e é certamente audacioso deixar supor pela existência deste buraco aí haver algo que mereça uma investigação. Mas enganam-se a meu respeito se acreditam que eu construo um covil por pura cobardia. É a alguns passos deste buraco que se encontra, dissimulado sob uma camada de musgo fácil de deslocar, o verdadeiro acesso ao meu covil.
in O Covil, Franz Kafka

3 comentários:

R.L. disse...

muito bom.

inês mega disse...

dele são todos, mas este tem qualquer coisa:)

spring disse...

Olá Inês Mega!
Foi atribu´do ao "Post It" o selo "O seu blog é viciante!"
Beijinhos
Paula e Rui Lima