domingo, 23 de agosto de 2009

Dos livros (preferidos)


Arranjei o meu covil e o resultado parece ser um sucesso. Do exterior vê-se somente um enorme buraco, mas na realidade este não conduz a parte alguma, bastam alguns passos para se ir de encontro a um sólido bloco de pedra. Não quero vangloriar-me de ter elaborado cientemente este estratagema, é simplesmente o vestígio de uma das minhas numerosas tentativas de construção fracassadas, mas, para concluir, pareceu-me vantajoso não tapar este buraco. É certo que há artimanhas tão subtis que se viram contra si mesmas, sei-o melhor do que ninguém, e é certamente audacioso deixar supor pela existência deste buraco aí haver algo que mereça uma investigação. Mas enganam-se a meu respeito se acreditam que eu construo um covil por pura cobardia. É a alguns passos deste buraco que se encontra, dissimulado sob uma camada de musgo fácil de deslocar, o verdadeiro acesso ao meu covil.
in O Covil, Franz Kafka

domingo, 16 de agosto de 2009

Da vida

Há certas respostas que por mais que tentemos encontrar nos mais variados sítios, mais perto, mais longe, nesta ou naquela pessoa, vão estar sempre num mesmo local à espera do dia em que as olhemos de frente e as reconheçamos como aquelas que tantas vezes procurámos. Num mesmo local. Dentro de nós.