quarta-feira, 28 de março de 2007

Amor nos tempos de cólera...


"A persistência da sua lembrança aumentava-lhe a raiva. Quando acordou a pensar nele, no dia seguinte ao enterro, conseguiu tirá-lo da memória com um simples gesto de vontade. Mas a raiva voltava sempre e logo se deu conta de que o desejo de esquecê-lo era o estímulo mais forte para se lembrar dele. Então atreveu-se a evocar, pela primeira vez, vencida pela nostalgia, os tempos ilusórios daquele amor irreal. Tentava recordar com precisão como era o parque de então, as amendoeiras ao vento, o banco donde ele a amava, porque nada disso existia já como naquele tempo (...) Não lhe era fácil imaginar Florentino Ariza como era então, e menos ainda conceber que aquele rapaz taciturno, com um ar tão desamparado à chuva, fosse aquela mesma ruína carunchosa que lhe tinha aparecido na frente sem nenhuma consideração pelo seu estado, sem o menor respeito pela sua dor e que lhe havia queimado a alma com uma injúria de chamas vivas que continuava a estorvar-lhe a respiração."


in "O Amor nos Tempos de Cólera", de Gabriel García Márquez



A quem não leu recomendo vivamente. A quem já leu porque não reler...

5 comentários:

spring disse...

lemos o livro aquando da sua saída já lá vão uns anos, depois disso foi relido duas ou três vezes, tendo em conta a literatura que se produz actualmente regressamos sempre aos livros amados, nem que seja para ler longas passagens, como sucede com essa obra espantosa intitulada "O Quarteto de Alexandria".
obrigado pela lembrança:)
paula e rui lima

maria inês disse...

Olá Paula e Rui!

Já que também me relembraram do Laurence Durrell, retribuo com o "Quintento de Avignon":)

Um abraço e obrigada pela presença assídua.

magarça disse...

Uma das mais belas histórias de amor da literatura. A reler, sem dúvida.

maria inês disse...

Olá Margaça!
Obrigada pela visita...

? disse...

Ora, já está em lista de espera há muitos anos, mas isto é muito pior do que qualquer hospital público!
Há muitas urgências com prioridade...
Ri